Prêmio Eliete Fernandes - Festival de Teatro Amador

E aí xófens, todos bem?

Recentemente (fev/25) este que vos escreve teve a honra de participar do Prêmio Eliete Fernandes (que carinhosamente chamarei de PEF), um festival dedicado ao teatro amador e que acontece anualmente na cidade de São Paulo. Se aprochegue, pois vou contar tudo o que rolou em nossa participação.



As origens do Prêmio/Festival datam de 2003, sob o nome "Festival Augusto Boal de Teatro Amador". Foi idealizado pela Eliete Fernandes e Roberto Shourin, e as primeiras edições aconteceram no Sesc Itaquera até 2005. A partir de 2023 retornou em sua primeira edição com o nome e formato atual.


Quem foi Eliete Fernandes





Eliete foi gestora ambiental, educadora, ativista cultural, atriz, cantora e declamadora. Foi administradora do Parque do Piqueri, em São Paulo, além de ter trabalhado em diversas ONGs. Outro fato interessante: Na edição de 2005 do ainda chamado Festival Augusto Boal, Eliete ajudou a promover cerca de sessenta grupos de teatro amador, dentre cento e cinquenta inscritos.
Faleceu em 2015, e o festival foi rebatizado em sua homenagem.


A Cia. Vira-Latas


O emblema da nossa Cia., fofamente produzido pela Julia Ferreira.




Somos uma companhia de Teatro a caminho de sua profissionalização. Atualmente contamos com dez membros, todos com experiências diversas no Teatro e em áreas correlatas. Nossa fundação data de meados de 2024, com os primeiros encontros rumo ao PEF e além.

Um dos nossos princípios norteadores é o de privilegiar a criação 100% autoral, ou seja: Da dramaturgia à trilha sonora, tudo é feito por nós, ou utilizando obras disponíveis via Creative Commons e similares. 

Outro ponto do qual nos orgulhamos: Cada processo tem os responsáveis pelo seu desenvolvimento, mas a opinião de toda a Cia. é levada em conta. Por exemplo, a peça que inscrevemos no PEF (e já já falarei sobre ela) tinha dois diretores bem definidos, a Ju Luas  e eu. Mesmo assim, os demais colegas de grupo eram sempre incentivados a opinar em alguns aspectos da direção. Óbvio que nós dois tínhamos uma ideia clara do lugar para onde queríamos ir. Mas chegar onde se deseja é mais interessante quando o caminho é construído em conjunto.
Sim, às vezes acontecia conflito de opinião, mas era tudo resolvido pensando no bem do projeto, deixando os egos de lado o máximo possível.

Momento jabá: Você pode nos contratar para eventos e outras atividades culturais através do nosso Instagram: cia.viralatas 🐶



Nosso texto, nosso espetáculo

O Medo que Nos Habita: Quatro Histórias de Redenção", de minha autoria (disponível via Creative Commons, inclusive), fala sobre quatro seres - Laura, Carlos, Viralatas e a Inspetora -  que tem suas vivências distintas interconectadas através de uma misteriosa personagem. A partir disso, precisam superar seus medos e traumas para seguirem adiante. A peça aborda a persistência humana e o poder das conexões interpessoais, mostrando como a esperança pode surgir mesmo nas piores situações.

As primeiras versões desse texto nasceram em 2017 e ganharam corpo em 2018, no meio de toda aquela ebulição política e a ascensão do Inominável. Na época eu pensava seriamente em abandonar os palcos e esse projeto seria minha despedida. Junto com mais dois amigos e em diversas rodas de conversa, trocamos histórias, experiências e os traços dessa dramaturgia ficaram mais nítidos. Nas quatro trajetórias que escrevi tem um pouco desses meus amigos, um pouco de mim. E por isso esse projeto foi (e é) tão pessoal. 

Mas ao longo dos anos (e principalmente rumo ao PEF) fiz diversas alterações na obra, e ela ganhou outros contornos. Por exemplo, alguns personagens hoje tem características herdadas de quem os interpretou pela primeira vez, e tenho certeza que ganharão ainda mais vida conforme o tempo passar. Acho que não tem alegria maior para um dramaturgo do que ver suas obras ganharem existência própria, cada vez mais livres das amarras de quem os criou.
Muito disso eu devo aos meus amigos e colegas da Cia. Vira-Latas.




Nossa participação no PEF

Nossa estreia oficial nos palcos aconteceu em 08/02/2025 no PEF, lá na Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes. Mas não se enganem, esse foi o ápice de uma trajetória de nove meses de ensaios, preparações e muita dedicação. Posso até dizer que foi o "nascimento" da nossa Cia. depois desse período de "gestação".

Nesses meses antes da estreia nós ensaiamos exaustivamente quase todos os finais de semana. Debaixo de sol (de MUITO sol), chuva, muitas vezes improvisando locais para que fosse possível uma prática mínima de ensaio. 
Para nos ajudar com isso, tivemos como vantagem técnicas que nos permitiram o uso mínimo de itens cênicos, graças a uma mistura inusitada do Teatro Pobre de Grotowski (do qual gosto demais) que unimos às diversas características que a Ju Luas trouxe do Teatro Épico de Brecht. Além do mais, àquela altura todos da Cia. já haviam passado por um módulo de Direção Teatral no curso do qual fazemos parte, então estávamos bem alinhados em todas as dificuldades pertinentes de se montar um espetáculo.

Dirigindo & sofrendo no calor de trilhões




E meus amigos...Foram muitas dificuldades: Financeiras, geográficas (cada membro da equipe residindo num canto diferente, imagina juntar todo esse povo), de agenda. Em contrapartida, graças aos deuses tivemos pouquíssimos (quase nada, na real) episódios problemáticos referentes aos egos. Podemos nos gabar de ter um elenco bastante maduro quanto a isso.

"Ah mas Jeff, você só tá falando de problemas". Sim, pequeno gafanhoto, porque fazer Teatro no Brasil é difícil. Teatro amador ainda por cima (quando as pessoas não vivem exclusivamente da prática teatral), nem se fale. E por isso iniciativas como o PEF são tão importantes, porque são um incentivo para que nós, que buscamos nos profissionalizar, sigamos na jornada. Mas essa é uma discussão longa e que pode ser assunto para outro post, outra hora, outra roda de conversa.

Voltando à nossa participação: Nos encontramos bem cedo na estação Barra Funda do Metrô e fomos até a estação Itaquera, da Linha 3, munidos de muita força de vontade e porralouquice. Afinal, o dia seria longo, e apesar de preparados, estávamos ansiosos e um pouco nervosos também.
Chegando em Itaquera, nos dividimos ainda em uns três ou quatro carros de aplicativo e rodamos por mais meia hora até que chegamos na Fábrica de Cultura. Lugar lindo, enorme, bem estruturado. Fomos recebidos pela equipe do Athina (um dos organizadores do PEF no formato atual e que foi nosso contato ao longo do projeto), nos aboletamos num camarim bem espaçoso reservado pra nós e partimos pra agilizar o que era necessário.
"Jeff, o que era necessário arrumar?"

TUDO.

Iluminação, sonoplastia, ensaio no palco, aquecimento, passadão técnico (quando fazemos um ensaio sem falas, só com os posicionamentos das cenas enquanto a equipe técnica ajusta luz e som). E ainda precisávamos de uma pausa pra comer qualquer coisa.

Esse pequeno caos é normal em estreias, mas para nós estava um pouco mais puxado porque era a primeira vez que pisávamos no espaço. Sim, um gap no nosso planejamento mas que é justificado considerando o quão longe todos ali moravam da Fábrica.
Ainda assim, um gap. Que lidamos da forma que dava chegando absurdamente cedo no local. A peça estava prevista para iniciar às 16h30, às 10h já estávamos lá para darmos nosso melhor.


O personagem Carlos, interpretado por Kayky Amorim




Personagem Laura, interpretada pela Yasmmin Amando.




Na hora indicada estávamos nas coxias e prontos pra iniciar o espetáculo. E quando começamos, não vimos mais o tempo passar. Éramos somente nós, a plateia e as histórias que passamos nove meses ensaiando pra contar da melhor forma possível. Muita coisa deu certo, outras nem tanto, mas de novo: Entregamos tudo o que podíamos e demos  nosso melhor.




Personagem Viralatas, interpretado pela Ana Carolina.



Ao final do espetáculo rolou um bate-papo com os jurados do festival. Fizeram algumas perguntas sobre o texto, sobre como foi o processo até ali, o que tínhamos achado da estrutura. Ideias trocadas, era hora da longa jornada de volta pra casa.

Foto pós espetáculo. Os dois fofuchos à esquerda, Carol e Walle, foram nosso apoio técnico e responsáveis pela iluminação e sonoplastia. Nos ajudaram demais da conta! E atentem para a cara de exaustão completa da equipe.




Impressões finais

O PEF é uma iniciativa muito boa. É um festival que ocorre por várias semanas (até meses) e que dá a chance para que novos artistas e público se encontrem.
Um ponto a se levar em consideração é que apesar de tudo isso, poucas pessoas da região assistem aos projetos apresentados. Não consigo dizer o motivo disso, mas tanto em publicações da organização quanto pela nossa vivência lá foi possível notar a quase total ausência de público local. Acredito que a galera do PEF tem se esforçado para mudar esse cenário e que com o tempo isso se ajeite.

Para nós da Cia. Vira-Latas, foi um processo cansativo, mas recompensador. 

Para mim, foi incrível presenciar a união, o foco e a determinação do pessoal ao longo dos nove meses de ensaio, e tudo para encenar um texto de um completo desconhecido.
E não vejo a hora de voltar aos palcos novamente com esse projeto.

Um beijo e um xêro, e nos vemos aí pelas encruzilhadas da vida.


À esquerda, a personagem Inspetora, interpretada por Julia Ferreira. À direita, a personagem Avatar, interpretada por Ju Luas.




Playlist de aquecimento

Acharam que eu tinha esquecido da playlist, né? Dessa vez vou adicionar a que usamos em nossos aquecimentos antes dos ensaios. Divirtam-se!







Atualização


Dia 05/04 rolou a cerimônia de premiação do PEF, e nós fomos indicados em duas categorias: Melhor Atriz Revelação para Yasmmin Amando e Melhor Roteiro Original pela peça "O Medo Que Nos Habita: Quatro Histórias de Redenção", e levamos pra casa o terceiro lugar nessa categoria!






Fotinha com os organizadores do evento e minha codiretora e parceira de vida, Ju Luas <3






Sente a pressão, neném




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