[Coluna do Gaiato] Quadrinhos são literatura?

Criança alemã refugiada nos EUA lendo um quadrinho do Super Homem em 1942 | Créditos: Wikipédia


Há duas semanas uma discussão voltou à tona: afinal, quadrinhos são ou não literatura? O assunto volta a ser comentado depois que James Akel, que disputa uma vaga na Academia Brasileira de Letras, declarou que “Gibi não é literatura”. Essa frase não foi falada à toa: James quis fazer uma crítica direta ao seu concorrente, Mauricio de Sousa, que definiu os quadrinhos como “literatura pura”.

Como a internet está sempre à procura de sarna para se coçar, rapidamente os internautas trataram de escolher um lado. Vários saíram em defesa do Mauricio e a sua principal obra, Turma da Mônica, enquanto outros validavam o discurso do James. Mas afinal, existe um lado correto? E o mais importante, essa discussão é realmente relevante?

Você vai se surpreender.

Como um grande fã de Turma da Mônica ― especialmente do Chico Bento ― e de One Piece, você pode imaginar que eu vou defender o lado do Maurício e dizer que o James só quer palco e causar intrigas. Não vou. Na verdade, eu concordo com a fala do James. Só não concordo com ele. Deixa eu tentar explicar.

Olhando de um panorama geral, dizer que “gibi não é literatura” poderia ser apenas um
a forma de classificar a obra. E eu concordo com essa classificação. Quadrinhos/Gibis não devem ser enquadrados como literatura, não precisam ser comparados a livros. Eles têm recursos narrativos exclusivos e são um campo artístico legítimo.

O problema dessa frase, principalmente no contexto em que foi usada, é que ela não tenta classificar. Ela tenta diminuir, menosprezar. Ao ser perguntado se já tinha lido os gibis da Turma da Mônica, James Akel respondeu que “sim, mas depois de ter aprendido a ler a escrever, com o uso dos livros de verdade”. E é aqui onde eu não posso concordar com o Akel.

A arte é subjetiva, e o seu valor também. Pode ser que alguém se ache em uma posição superior por ouvir Bach e não Forró do Muído, mas isso é uma bobagem, uma besteira das grandes ― São Amores é um hino atemporal. A pluralidade de expressões artísticas é o que nos dá esse mar tão rico de conteúdo. E um mar de água doce, onde todos podem beber.

Essa ideia de trazer um juízo de valor em cima da arte não é novidade. Quase todo mundo presenciou ― ou participou ― da discussão sobre o Funk ser ou não considerado música ou até mesmo cultura. Recentemente, Martin Scorsese, renomado diretor de Hollywood, também deu as caras para falar que filmes de heróis não podiam ser vistos como cinema.

Fica claro que o problema não é a classificação. O que incomoda o Scorsese não é que filmes de heróis não atinjam os “critérios cinematográficos” necessários. O que incomoda é que um filme mais comercial esteja na mesma prateleira da obra dele, que essa sim, é cinema. O que incomoda é que Mauricio de Sousa seja o candidato favorito à cadeira tendo publicado “meros quadrinhos”, enquanto James Akel fez literatura de verdade escrevendo sobre marketing no setor hoteleiro.

No fim, toda essa discussão parece irrelevante, porque a classificação parece irrelevante. É quase isso. Mesmo assim, é importante que possamos entender porquê criamos essas classificações e que necessidades elas suprem. Talvez quadrinhos não sejam literatura, e eu digo que não são, mas eles não ganham o status de “arte inferior” por causa disso.

A arte se mostrou com Mozart, com Picasso, com Nietzsche e Shakespeare. Mas também com MC Marcinho, Coldplay, Junji Ito, Tarsila do Amaral, Rita Lee, Kami Garcia, Mauricio de Souza e tantos outros...

Talvez mais importante do que saber as respostas, seja entender o porquê das perguntas.

Bebam água, comam frutas e vão ler um gibi.

Um beijão do pilantra, até mais! <3 





1 comments

  1. Oi! Para mim é! Minhas primeiras leituras foram quadrinhos e a partir deles fui me interessando por livro. Então quadrinhos, na minha opinião, são literatura. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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